quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pecados de um padre...


Cada vez mais me convenço que vivemos num mundo de pernas para o ar. Com as coisas que vamos sabendo, em especial no que toca a Igreja católica que tem primado por escândalos atrás de escândalos, dos mais escabrosos e pouco dignos dessa instituição.
Um dia destes, deparei-me com um apontamento muito interessante, num canal da televisão espanhola, sobre o “escândalo” da vida de um padre, que se atreveu a transcrevê-la num livro, que dá título ao post, no original «Sin tapujos: La vida sexual de un cura», obra que esgotou em dois dias e abriu um debate sobre o celibato na Argentina.
Nesse programa, o Padre José Guillermo «Quito» Mariani, prestes a ser julgado por um tribunal eclesiástico por causa das páginas que escreveu, admite que, por uma questão de coerência, não acata a ordem de “silêncio absoluto” imposta pelo arcebispo de Córdoba, Carlos Ñañez, e continua a dar entrevistas e a colaborar num canal local de televisão, onde transmite não só a sua posição sem dogmas, em relação ao sexo, como também entra em rota de colisão com o catolicismo instituído em relação a outros assuntos de cariz social, nomeadamente no que respeita à colaboração entre a Igreja Católica e as ditaduras que se viveram na Argentina (e não só). 
Em 2004, este padre, que é argentino, atreveu-se a lançar um livro, onde confessa as suas experiências sexuais. Como resultado, o livro esgotou-se em 48 horas.
Na altura do lançamento do livro, o padre tinha 74 anos de idade e 54 de sacerdócio (tantos quantos os capítulos do seu livro) e o objectivo seria o de denunciar e acabar de vez com a hipocrisia do celibato dos padres por parte da igreja, negando-lhes a satisfação dos seus naturais impulsos sexuais e por isso mesmo, há denúncias constantes dos abusos sexuais a menores e não só…
Página após página, o padre Mariani analisa a complicada relação de um sacerdote com o seu corpo e confessa ter tido duas relações sexuais com mulheres e uma tentativa frustrada com outro padre.
Em muitas outras religiões e até em igrejas protestantes cristãs, os seus pastores ou padres, podem constituir família e raramente ouvimos que eles tenham abusado de crianças ou das crentes desses cultos, como parece acontecer em sucessivos escândalos com os padres de igrejas católicas em todo o mundo.
Mariani confessa no seu livro:
- “Incomodou-me muito aquilo o que fui descobrindo sobre a conduta dos ministros da Igreja e muito pouca gente acredita que os padres sejam castos”
Há quem leia nestas linhas acusações veladas a hierarquias católicas argentinas sobre 46 casos de abusos sexuais a seminaristas.
Mariani conta que se apaixonou ainda jovem mas que a namorada não conseguiu superar às pressões sociais e tudo acabou.
Nas ruas, há quem destaque a valentia de Mariani e quem defenda a sua expulsão. "A minha vida não se resume a três experiências sexuais", refere o sacerdote ordenado em 1951.
A autobiografia fala de disputas internas na hierarquia católica, da cumplicidade da Igreja com as ditaduras, da luta de Mariani contra os militares, das perseguições que sofreu, do exílio e até das suas actuais batalhas contra a exclusão social, mas esses aspectos não provocam discussão pública, apenas e só… porque teve relações sexuais!
… como se, nos bastidores da Igreja, não façam coisas bem piores!
Mariani é, segundo a imprensa argentina, acarinhado pelos fiéis e tido como "progressista" pelos seus pares. Autor de poemas, de artigos jornalísticos e de diversos textos que fazem a defesa dos mais humildes, é uma voz respeitada em assuntos religiosostanto que conduz um programa no Canal 10 de Córdoba desde 1992.
Afinal a Igreja quer condenar este padre por falar verdade e mostrar os "podres" de uma Igreja, que vem sendo desacreditada pelos sucessivos escândalos pedófilos e nunca mais muda de atitude na legalização do casamento dos padres e sacerdotes. É preferivel fechar os olhos a todos estes horrores? 



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