quinta-feira, 31 de julho de 2014

Na Mão de Deus


Sou uma grande admiradora dos livros da escritora moçambicana Paulina Chiziane, que tem diversas publicações e que sempre se debruçou sobre o tema da mulher, com diversas publicações, entre elas, “Balada de Amor ao Vento”, “Os Ventos do Apocalipse”, “O Sétimo juramento”, “Niketche: Uma História de Poligamia” e “O Alegre Canto da Perdiz”.
Como a escritora esteve internada em psiquiatria, achou a experiência tão interessante que decidiu partilhar essa sua vivência, dando origem ao livro “Na Mão de Deus”, em co-autoria com a estreante Maria do Carmo Silva, estudante de espiritismo e membro da União Espírita Cristã de Moçambique.

Paulina foi internada em Fevereiro de 2012, porque estava a passar por crises de calor e frio, intercaladas com vertigens. Ela também ouvia “vozes”, que faziam com que ela falasse sozinha horas e horas durante a noite, sem conseguir dormir. Os médicos não chegaram a um diagnóstico concreto e prescreveram-lhe medicamentos para acalmar as crises e “reduzir a força das vozes”. 

A obra traz uma narrativa psicológica centrada na personagem Alice, moçambicana próxima dos 60 anos, catedrática e bem estabelecida na sociedade, que vê a sua vida mudar por completo quando começa a ouvir vozes.
A falta de um entendimento racional do que se passa consigo, o distanciamento e receio dos familiares e da sociedade, o sofrimento físico e mental, levam-na à beira do suicídio, até que resolve procurar um caminho para trazer “a paz” de volta.
Alice consulta médicos, curandeiros e até mesmo os masíones (uma seita religiosa moçambicana que mistura cristianismo com crenças tradicionais) numa sufocante busca para entender as incessantes vozes. Espíritos? Esquizofrenia? Alucinação? Até às últimas páginas, a personagem — e também o leitor — vive intensamente a aflição de lidar com o desconhecido. Para as autoras, o livro surge como um pretexto para discutir o tema das doenças mentais, que ainda é visto com grande desconhecimento e receio em Moçambique e no mundo.
O livro esgotou rapidamente e vai haver nova edição. A não perder!

sábado, 26 de julho de 2014

Os Pasteis de Belém

Os pastéis de Belém são uma marca de sucesso, como denunciam as filas à porta da Confeitaria de Belém, em Lisboa, que dá emprego a 150 pessoas. Por dia são vendidos mais de 20 mil pastéis, cuja receita é um segredo muito bem guardado... e cobiçado
São 177 anos de doces histórias, que começaram com um monge e acabaram na família Clarinha. Não há crise que lhes azede o doce. De fornada atrás de fornada, saem por dia mais de 20 mil pastéis de Belém. Só no ano passado foram vendidos 7,1 milhões, o que corresponde a muitas toneladas de açúcar, farinha, ovos, leite e, claro, uma elevada facturação: 8 milhões de euros (valor bruto de 2013). A todos estes números está associado um condimento - o segredo - que torna o pastel de Belém ainda mais especial e quase tão místico como a história do monge que, em 1837, terá vendido a receita.
E não vale a pena tentar fazer igual. A longa história de tantos anos desta iguaria, diz que ninguém consegue. Não têm faltado tentativas para denunciar o segredo dos pastéis de Belém, desde episódios de espionagem industrial, receitas de alguns grandes chefs internacionais apresentadas como a verdadeira, a investigações de laboratórios gastronómicos de universidades estrangeiras.
- "É uma receita única, mas há muito misticismo à volta do segredo. Posso garantir que nunca conseguiram raptar quer o segredo, quer as poucas pessoas que o conhecem", - diz com um sorriso Miguel Clarinha, de 32 anos, um dos mais novos descendentes da família detentora da "fórmula mágica" há quatro gerações.
- "Tem sido um negócio familiar e a forma de produção mantém-se exactamente igual", - explica Miguel, - "Só há seis pessoas que conhecem o segredo: os três mestres em actividade, dois já reformados, e o gerente da casa. Confiança, carácter e muitos anos de trabalho nesta casa, são requisitos fundamentais na hora de escolher o mestre.
O "eleito" assina um contrato de sigilo profissional e passa a ter regalias sociais acima da média, ou seja, um bom ordenado.
Miguel, que estudou Marketing e Publicidade e trabalha nos pastéis de Belém desde 2006, recorda um dos episódios mais caricatos de tentativa de roubo do segredo. Passou-se com o seu pai, Pedro Clarinha:
- "Era um grupo de chineses que se apresentaram como repórteres. Foram ver o local de fabrico e a certa altura, o meu pai deu com um deles com seringas a tirar amostras de um pastel. Foram logo corridos. Só podia ser espionagem industrial."
Esta receita original e tão cobiçada data do início do século XIX. Era confeccionada pelos monges do Mosteiro dos Jerónimos, que, por uma questão de sobrevivência, vendiam os doces pastéis à população do bairro de Belém.
Em 1837, com as revoluções liberais, os monges foram expulsos dos seus conventos e a receita acabou por ser vendida a um comerciante, Domingos Rafael Alves, que possuía uma antiga refinaria de açúcar, onde é hoje a Antiga Confeitaria de Belém.
Nessa época, a iguaria era apenas conhecida pelas pessoas da zona. - "Só quando o eléctrico e os barcos a vapor começaram a ligar a capital a Belém, é que a fama dos pastéis saiu do bairro", - conta Miguel.
A natureza turística da zona, com o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém a atraírem milhares de pessoas, foi determinante para a "internacionalização" do pastel de Belém. 
- "As pessoas começaram a criar o hábito de vir até aqui. A marca começou a ganhar projecção, sobretudo após o 25 de Abril de 1974", salienta Miguel.
O número de trabalhadores também dá conta dessa evolução: nos anos 70, os pastéis davam emprego a 60 pessoas, no início do século XXI já eram umas 110 e actualmente são 150, distribuídas entre produção, balcão, mesas e limpeza. 
Francisco Muchagata, de 61 anos, é um dos mais antigos funcionários. Há 47 anos que, diariamente, vê passar as centenas de fornadas com os pastéis, que ainda bem quentinhos, são embalados ou vão para as mesas das inúmeras salas da confeitaria, com capacidade para 400 lugares sentados. 
-"São poucos os que apenas comem um pastel... O cliente mais guloso que conheci, comeu uns 18 e não saiu daqui mal - disposto", conta Francisco.

sábado, 5 de julho de 2014

Passeio de eléctrico por Lisboa


 Vista de Lisboa (do Miradouro da Senhora do Monte)
Agora nas férias, decidi dar uma voltinha de eléctrico por Lisboa, para matar saudades das ruas e ruelas que habitam na minha memória e que tantas saudades tenho.
Para conhecer melhor Lisboa, é imprescindível andar a pé pelo bairros típicos, como Alfama ou Bairro Alto ou então, apanhar um eléctrico, que costuma percorrer as zonas mais tradicionais.
  O ideal mesmo é apanhar o eléctrico, o nº 28, é conhecido pelo “eléctrico dos turistas” ou o “Amarelo”, como carinhosamente os residentes lhe chamam e que serve todos aqueles que precisarem dele, incluindo os moradores das colinas que o usam, devido à forte inclinação das ruas, e que se torna numa ajuda preciosa, principalmente para os mais idosos.

 Castelo de S. Jorge - Lisboa
E assim, não há nada como sermos turistas no nosso país e apreciar, das janelas deste pitoresco meio de transporte, todo o património histórico e natural que Lisboa tem para oferecer, desde a imponente Basílica da Estrela, até ao monumental Castelo de São Jorge, na zona medieval da capital
Infelizmente os “amarelos” andam quase sempre atrasados, depois de uma desesperante espera, lá chegam aos dois e três ao mesmo tempo. Descobri depois a razão: devido à falta de respeito de muitos dos condutores de veículos particulares, que os deixam parados em cima da linha, enquanto vão tratar de assuntos, não se importando que ali fiquem dezenas de pessoas dentro do eléctrico, à espera que “suas excelências” tratem dos seus assuntos comodamente de carrinho à porta…

  Mosteiro de São Vicente de Fora - Lisboa

Mas, saindo do Martim Moniz, o 28 dirige-se ao bairro da Graça, na direcção do Mosteiro de São Vicente de Fora, que merece uma visita pela sua imponência.
Por detrás do mosteiro, fica o Campo de Santa Clara, onde às terças e sábados há um mercado, a Feira da Ladra, onde tudo se compra e vende.

 Rua Augusta (Baixa Pombalina) - Lisboa
O eléctrico continua por Alfama, passando por algumas das ruas e praças mais pitorescas da zona medieval de Lisboa, como a Rua das Escolas Gerais, o Largo das Portas do Sol, um belo miradouro sobre o rio, e mais acima o Castelo de São Jorge. Descendo em direcção à Baixa, o 28 passa pela Catedral de Lisboa, de fachada românica austera, e pela Igreja de Santo António, o santo predilecto da cidade. Continuando a descer pela movimentada Rua da Conceição, vale a pena sair na Baixa Pombalina, projectada pelo Marquês de Pombal depois do terramoto de 1755.
  Café "A Brasileira" - Lisboa (Estátua de Fernando Pessoa)

O eléctrico sobe a elegante colina do Chiado, parando quase em frente do famoso Café, "A Brasileira", onde a estátua do poeta Fernando Pessoa parece que espera por companhia...
Ao longo de todo o percurso vale a pena prestar atenção à arquitectura dos edifícios, aos azulejos que forram as fachadas e os frisos de estilo Arte Nova. 

 Assembleia da República - Lisboa
 A caminho para a Estrela, podemos admirar o edifício da Assembleia da República, no alto da sua grande escadaria, que foi o antigo convento de São Bento, e que é um dos mais importantes órgãos de soberania nacional.
Dado que o "eléctrico 28" percorre um dos trajectos mais turísticos da cidade, é palco para muitos carteiristas e amigos do alheio, que funcionam muitas vezes aos pares, ou como um inofencivo casal. Por isso, muita atenção e fique especialmente atento aos seus pertences.

Compreende agora porque este eléctrico é conhecido pelo “eléctrico dos turistas”? 
Bom passeio!!

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Bambú Chinês


Desde sempre ouvi dizer que os provérbios são directrizes de vida. Um desses provérbios de sabedoria chinesa, diz-nos que temos de ser flexíveis como o bambu para alcançarmos as nossas metas e objectivos de vida e o que é facto, é que muitas pessoas identificam-se com o seu conteúdo.
Senão vejamos por exemplo este provérbio do bambú chinês: "Não há que ser forte, há que ser flexível":
Eis a história:

Depois de plantada a semente do bambu chinês, durante aproximadamente 5 anos não se vê nada, excepto um diminuto broto. Todo o crescimento é feito por debaixo da terra, numa complexa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra e que vai sendo construída. Então, ao fim do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir uma altura de 25 metros.
Muitas coisas na nossa vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Nós trabalhamos, investimos tempo, esforço, fazemos tudo o que podemos para nutrir o nosso crescimento e, muitas das vezes, não vê nada durante semanas, meses ou anos. Mas, se tivermos paciência para continuar a trabalhar, persistindo e nutrindo, o nosso 5º ano chegará e com ele, virão as mudanças que jamais esperávamos.
Teremos sempre de nos lembrar, que é preciso muita ousadia para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita profundidade para nos agarrarmos ao chão.
  
Mas porquê toda essa reflexão?
O alto e verde bambu, que balança com o vento, é flexível, mas sempre altivo e determinado.
Quantas vezes já não tivemos que nos dobrar, até onde nunca imaginamos conseguir, para manter a dignidade, e para que a nossa vida seguisse em frente? Quantas vezes a flexibilidade e a persistência nos mostraram outros caminhos?
Sejamos como o bambu na vida, nas relações profissionais, nos relacionamentos com o nosso companheiro  e amigos, com a família, etc: fortes e flexíveis…
Muitas vezes é dessa forma que podemos fazer a diferença. A flexibilidade mostra-nos outros ângulos e dá-nos outras dimensões. A rigidez bloqueia a visão, o que nos faz desistir muitas vezes de prosseguir um determinado caminho que nos seria benéfico…