sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DIA DE NATAL


Hoje é dia de ser bom! É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, de falar e de ouvir com mavioso tom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem, de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal. É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse, numa toada doce, de violas e banjos, que entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates, com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica, cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates, as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito, ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito, como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento. Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa, a sua comoção é tanta, tanta, tanta, que nem dorme serena. Cada menino, abre um olhinho, na noite incerta, para ver se a aurora, já está desperta.
De manhãzinha, salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza da matutina luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.
Jesus! O doce Jesus, o mesmo que nasceu na manjedoura, veio pôr no sapatinho
do Pedrinho uma metralhadora.
Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá. Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las. E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal, Dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão

1 comentário:

  1. Noite de Natal em qualquer parte do mundo é uma noite de magia e santa. Adorei este texto.
    Que 2013 seja um bom ano para todos.
    Graça

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