quarta-feira, 6 de junho de 2012

Fernão Capelo Gaivota

Já leu este livro? É de Richard Bach que tem o extraordinário dom da escrita. Os seus livros são de leitura fácil, absorventes mas muito fortes. Possuem várias mensagens, francamente possantes e este, não é excepção, por ser uma excelente parábola que faz uma analogia entre o homem e a gaivota, no sentido de mostrar as dificuldades de superação dos limites, do encontro com a liberdade
verdadeira, pautada no amor e na compreensão do outro.
A maior parte das gaivotas não se querem incomodar em aprender mais do que os rudimentos do voo, como ir da costa caçar a comida e voltar.
Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer, (como de resto a maior parte dos seres humanos). Porém, para esta gaivota, o mais importante não era comer, mas sim voar, saber mais, conhecer para “além”.
Mais que tudo, Fernão Capelo Gaivota adorava voar! Mas, como veio a descobrir, esta maneira de pensar e de ser diferente não o fazia muito popular entre as outras aves, em especial dos "chefes do bando" que o obervavam desconfiados (tal como na nossa sociedade, alguém que se atreva a ser mais esperto e melhor que os demais).
Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinho, a experimentar, a cogitar, fazendo centenas de voos.
Não sabia porquê, mas, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior ao comprimento das suas asas abertas, conseguia manter-se no ar durante mais tempo e com menos esforço. Os seus voos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a praia e depois a medir o comprimento da aterragem, os pais ficaram deveras preocupados.
-“Porquê? Fernão, porquê? - perguntava-lhe a mãe - Por que não podes ser como o resto do bando? Por que não deixas os voos rasos para os pelicanos e para o albatroz?”
Por que não comes? Filho, és só penas e osso!
- “Não me importo de ser só penas e ossos, mãe. Só quero saber aquilo que consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber. 
-“Ouve lá, Fernão - disse-lhe o pai com bondade - O Inverno aproxima-se, haverá poucos barcos e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos voos está muito bem, mas sabes que não te podes alimentar só disso. Se tens mesmo de estudar, então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não te esqueças que a razão por que voas é a de comer.”
Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se como todas as outras gaivotas, tentou mesmo a sério, disputando com o resto do bando a comida dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixes e pão. Mas não conseguiu.
-"É tão inútil", pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara bastante a apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia. Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar...E há tanto para aprender!”
Esta é uma história envolvente, com uma mensagem cheia de optimismo para todos os que leiam este livro: podemos “voar” mais alto, nem que seja a sonhar e se podemos sonhar, podemos realizar.
Um livro encantador, com um leve sabor a mar, ao verde da terra e ao azul indelével do céu. E por ser tudo isto e por nos transmitir uma mensagem que frequentemente esquecemos no dia-a-dia (e que agora nos faz recordá-la e reflectir sobre ela), é que recomendo com prazer a leitura deste livro.

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