Sou
uma grande admiradora dos livros da escritora moçambicana Paulina Chiziane, que tem
diversas publicações e que sempre se debruçou sobre o tema da mulher, com diversas publicações, entre elas,
“Balada de Amor ao Vento”, “Os Ventos do Apocalipse”, “O Sétimo juramento”,
“Niketche: Uma História de Poligamia” e “O Alegre Canto da Perdiz”.
Como
a escritora esteve internada em psiquiatria, achou a experiência tão interessante
que decidiu partilhar essa sua vivência, dando origem ao livro “Na Mão de Deus”, em co-autoria com a estreante Maria do Carmo Silva, estudante de
espiritismo e membro da União Espírita Cristã de Moçambique.
Paulina foi internada em Fevereiro de 2012, porque
estava a passar por crises de calor e frio, intercaladas com vertigens. Ela
também ouvia “vozes”, que faziam com que ela falasse sozinha horas e horas
durante a noite, sem conseguir dormir. Os médicos não chegaram a um diagnóstico
concreto e prescreveram-lhe medicamentos para acalmar as crises e “reduzir a
força das vozes”.
A obra traz uma narrativa psicológica centrada
na personagem Alice, moçambicana próxima dos 60 anos, catedrática e bem
estabelecida na sociedade, que vê a sua vida mudar por completo quando começa a
ouvir vozes.
A falta de um entendimento racional do que se
passa consigo, o distanciamento e receio dos familiares e da sociedade, o
sofrimento físico e mental, levam-na à beira do suicídio, até que resolve
procurar um caminho para trazer “a paz” de volta.
Alice consulta médicos, curandeiros e até mesmo
os masíones (uma seita religiosa moçambicana que mistura cristianismo com
crenças tradicionais) numa sufocante busca para entender as incessantes vozes.
Espíritos? Esquizofrenia? Alucinação? Até às últimas páginas, a personagem — e
também o leitor — vive intensamente a aflição de lidar com o desconhecido. Para
as autoras, o livro surge como um pretexto para discutir o tema das doenças
mentais, que ainda é visto com grande desconhecimento e receio em Moçambique e
no mundo.
O livro esgotou rapidamente e vai haver nova edição. A não perder!