Duas pinturas de Henri Matisse
Uma velha canção está a tocar. Fico na dimensão de um tempo que não passa. Tudo
passa, mas a minha nostalgia é por um tempo que ainda não vivi. A música
acompanha os sentidos para dotar a alma humana de uma existência que estava
ausente. Estive ausente na juventude. Existo hoje tão somente pela velha canção
que escuto.
Há canções assim...aquelas que apenas a alma de cada um sabe entender. Há momentos
em que podemos existir com tudo, mesmo podendo apenas escutar um simples
timbre.
Momentos sublimes assim, eu percepciono-os em mim.
Desde muito jovem, o pintor Henri Matisse costumava
visitar semanalmente o grande pintor Renoir no seu atelier.
Quando Renoir foi atacado por artrite, Matisse
passou a fazer-lhe visitas diárias, levando alimentos, pincéis, tintas, mas sempre
procurando convencer o mestre de que estava a trabalhar demais, e precisava de
descansar um pouco.
Certo dia, notando que a cada pincelada fazia com
que Renoir gemesse de dor, Matisse não se conteve:
- "Grande mestre, a sua obra já é vasta e
importante. Por que continua a torturar-se desta maneira?
- "Muito simples", respondeu Renoir: -"A
dor é passageira, mas a beleza permanecerá".
(Paulo Coelho)